_____escrevo, escrevo, escrevo
[imagem: via ruffledblog.com]
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Provavelmente eu ainda esteja escrevendo quando o sol aparecer sobre o horizonte e soprar luz sobre nosso mar verde tão escuro que é quase sempre cinzento. Porque a noite me ameaça com desejos invencíveis de transpor meus limites que cantam madrugadas e acordam ainda sonhadores. E eu escrevo como se sangrasse uma eterna menarca.
É quase certo que a lua me encontrará escrevendo quando ela surgir, majestosa, depois de dar um belo chute no sol para avisar que à noite é ela quem manda porque as estrelas lhe emprestam o brilho e um par de brincos novos, todas as noites. E eu escrevo como se bebesse o leite de minha mãe todas as manhãs antes de me dar conta de que ela passou a obrigação de me alimentar à poesia.
Também estarei escrevendo quando o relógio de sol marcar a hora metade e o calor estiver tão abrasador que eu desejarei o deserto de palavras, em vão. Elas serão tempestade de areia a fustigar meus olhos e secarem meus lábios. E eu escrevo como se me banhasse à tarde toda no oásis de águas claras da vida irmã.
Tenho quase certeza de que estarei escrevendo quando algum médico me garantir pouco tempo à mercê desta atmosfera e eu, entre um espanto e um suspiro aliviado, possa me garantir menos enfadonha do que as letras que rabiscam receitas e prognósticos e diagnósticos. E eu escrevo como quem se cura de uma doença a cada dia.
Creio que partirei escrevendo, para desespero dos amigos que vão preferir chorar antes de me ler. Provavelmente acenarei letras com um lenço branco e uma mensagem coerente em meio a mistérios incongruentes.
E meus olhos fechados estarão lendo tudo o que escrevi e escreverei ainda, como se assistisse a morosos veleiros transpondo mares azuis.
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A.Gil.
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