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Mostrando postagens de 2013

____das metáforas dos dias

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      [imagem: Anna Alexis]  Algumas palavras que lhe arranhavam as gavetas da alma, já não disse. Não faziam mais qualquer sentido. Sua boca parecia costurada com linha colorida como a boca das bonecas de pano e seu silêncio tinha um gosto de pão amanhecido e cheiro de café esfriado na caneca. Entretanto, isso tudo era preferível a usar as palavras guardadas desde um tempo tão remoto que até a mem ória dele tinha tons sépia. Não que tivesse alternativa, já que os ouvidos estavam mais moucos do que nunca e as mentes tão rasas que repetiam atitudes burras travestidas de razão. Não que ela própria fosse genial. Mas bem que sabia sair de labirintos maiores, quando os reconhecia construídos por mãos de papelão e transístores. Algumas palavras jamais diria. E o bolor que elas criariam talvez fosse útil nos porões onde, deitados, os vinhos esperam bocas e festins. ...  

____estatística/vida

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imagem: via minhocanacabeca.com.br Pelas telas das tevês escorrem lágrimas de sangue.  Nos jornais, a tinta é vermelha e os números - inimagináveis- transformam crimes brutais e pessoas em mera estatística. E eu - um milhão de 'eus' - passo - passamos nós - . Os que preferem ser essa individualidade para a posse, o consumo, mas se distancia - sem rosto, sem alma - dos que, como ele, compõem números...números. O pensar matemático nos trouxe o imediatismo, o resultado exato e nos transformou - a nós e nossos pensamentos - em equações. E eis que a nossa capacidade de simplesmente nos colocarmos no lugar do outro - próximo ou distante - foi reduzida a mínimos comentários saídos da lingua de fogo da LÓGICA.   Assim, rotula-se antes mesmo de pesar uma ciscunstãncia, uma causa, um sentir.  O resultado - reação precisa ser rápido, tão célere quanto a fúria do pensamento que se habitua aos poucos a não admitir falhas - como se a vida fosse exata.  A partir disso, d

____nós, hoje

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[imagem: jessica durnt] ... A gente saliva um pouco, engole e segue adiante. Somos emudecidos por tantas carrancas deste tempo - o nosso, arrastado tempo em que se explode  por um piscar de olho mais ousado. E a gente se controla enquanto pode - porque pode ser que o outro nem possa mais. O susto das notícias é algo que mora em casa, abre a geladeira e lancha ao nosso lado, numa bancada usada como mesa, porque mal se tem tempo para comer ressoando  histórias em família. O ponto é este: afastamento. Nós nos afastamos - e começamos a fazer isso em casa. Nós nos perdemos uns dos outros. Já não sabemos [ou sabemos muito pouco] onde moramos e do que gostamos. Uma tevê conversa conosco - monólogo do absurdo e ansiedade subliminar. Ela ocupa o lugar da mãe, do pai, do filho, do marido, da mulher e do olhar carinhoso que seria tempo de dar sobre nós mesmos. Somos o risivel submundo do que criamos. E se já foi necessário acordar aguma vez, agor

____de manhã

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Tenho a mania serena de me encontrar comigo, todas a manhãs, e bater um papo enquanto sorvo um café com leite e me alimento de pão com margarina, um pedaço de queijo...um biscoito, um pedaço de bolo, goiabada ou bananada caseira, ou mel... Enquanto como, eu me alimento de mim, porque me penso e me descubro no nascer de um dia e de um página que, na certa, escreverei com meus rabiscos nervosos, com minhas frases febris. Mas aquele momento é o meu momento de serenidade. E sobre a mesa, exposta e deliciosa, minha vida entra pela minha boca e faz cócegas, como o morango vermelho de ansiedade e, quem sabe, paixão. Aglaé Gil __________________________ __[imagem: welcomeapril.wordpress] Marcar foto Ad