Há um cansaço intenso, imenso. Sou a partida, o primeiro passo adiante e sem uma sequência infinda de outros passos que me levam para muito longe daqui. Sigo meu pensamento, vou com o vento e não quero pensar, porque cada pensamento é perigoso no sentido de me deitar novamente à mágoa e ao rancor, coisas que não quero sentir, não quero ver. Eu abraço meu caminho porque é o que tenho a abraçar e me sinto pequena e vã, menor que o grão de areia daquela praia que, há muito, abandonei. E cada palavra sai de mim sem sentido, porque sou um sopro, agora. Mas ainda sou eu. Há pessoas que não entendem isso, mas eu entendo. Ser o que a gente é, por inteiro, não é fácil, nem sempre bom e vantajoso, porém é tudo o que se tem, é a bagagem mais cara e preciosa. Escrevo por escrever e, de repente, tudo faz sentido, mas naturalmente não para quem me lê. Não importa. Estive aqui. Isso me faz presente e adequada à minha realidade. O resto são sombras. A. _______________________________________________
Em 1975, poucas coisas me incomodavam mais do que aquela saia plissada que eu devia usar quase totalmente abaixo do joelho. Além disso, o tecido era um tanto firme demais e a saia,apesar de plissada, não tinha movimento, era dura,aquilo me chateava. Se bem que meus joelhos eram ossudos, saltados, esquisitos. Eu os queria arredondados, bonitinhos, bem feitos, enfeitando pernas mais grossas. Que nada! Era daquele jeito mesmo, fazer o quê? Meus cabelos pareciam refletir o que se passavam dentro de mim, eles tinham uma rebeldia intrínseca. Se eu plantasse um ou dois fios num vaso ou num xaxim, o nome seria: 'comigo-ninguém-pode'. Verdade. Eram o ó. Mas eu também não cuidava muito deles não. Não havia essas coisas de cuidar demais, produtos e tal. A gente também não tinha dinheiro para tanto, mesmo se houvesse. Soluções paliativas eram a touca [alguém se lembra disso? para alisar, os bobs gigantes que a gente chamava de manilhas da Sanepar [é a empresa de saneamento aqui
[imagem: via ruffledblog.com] _____ Provavelmente eu ainda esteja escrevendo quando o sol aparecer sobre o horizonte e soprar luz sobre nosso mar verde tão escuro que é quase sempre cinzento. Porque a noite me ameaça com desejos invencíveis de transpor meus limites que cantam madrugadas e acordam ainda sonhadores. E eu escrevo como se sangrasse uma eterna menarca. É quase certo que a lua me encontrará escrevendo quando ela surgir, majestosa, depois de dar um belo chute no sol para avisar que à noite é ela quem manda porque as estrelas lhe emprestam o brilho e um par de brincos novos, todas as noites. E eu escrevo como se bebesse o leite de minha mãe todas as manhãs antes de me dar conta de que ela passou a obrigação de me alimentar à poesia. Também estarei escrevendo quando o relógio de sol marcar a hora metade e o calor estiver tão abrasador que eu desejarei o deserto de palavras, em vão. Elas serão tempestade de areia a fustigar meus olhos e secarem meus lábios.
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bjux
;-)